Escolhemos o cacto Xique Xique para nomear uma das suítes da Casa do Sertão, da Vila Aju – Pousada Temátca. A Casa do Sertão foi construída em 2019 pelos sergipanos João e José, com o uso da taipa e do barro, de forma totalmente artesanal, como era tradição no passado. No interior de Sergipe, muitas casas foram construídas desta forma e resistem ao tempo até os dias de hoje.
Ainda que tenha uma aparência pouco amistosa, o cacto xique xique é coberto por numerosos e longos espinhos, e tem um dos apelidos mais simpáticos dentro do universo botânico. A espécie Pilosocereus gounellei é popularmente conhecida como cacto xique xique ou cacto xiquexique. Não por acaso, esta é uma planta tipicamente brasileira, ocorrendo naturalmente nos estados da região nordeste do país, em áreas de clima semiárido. Ele faz parte da vegetação característica da caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro do planeta. Inclusive, é possível observar uma grande quantidade de cacto xique xique na caatinga sergipana, sendo utilizado pelos agricultores como uma alternativa para alimentação dos animais em períodos de longa estiagem. Esta planta é a última alternativa dos agricultores para salvar seus animais, devido a grande dificuldade de sua utilização.
O xique xique coloca flores rosadas protegidas por uma espécie de algodão natural produzido pela planta. As flores surgem nos meses que antecedem as trovoadas, geralmente de dezembro a janeiro. Também pode gerar frutos de tamanho médio, verde por fora e vermelha por dentro, repletos de sementes que são muito apreciadas por aves e animais da caatinga. Suas flores e seu fruto, quando maduro, é comestível, saboroso e rico em minerais.
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Hospedar-se na Casa do Sertão, é reviver o passado e ao mesmo tempo entrar em contato com a cultura sergipana através dos artistas da terra que decoram a suíte. Ao começar pela Xilogravura na porta de entrada, que dá nome à suíte Mandacaru, realizada pela artista Claudia Nên. Depois, o Mandacaru representado no quadro pintado pelo artista Bruno Poconé. Em seguida, para representar a taipa, observe os trabalhos em cipó (mandala, cabeceira de cama, aparador, luminárias e cestos) realizado pelo artesão Geraldo. Para representar a terra temos o purrão (peça cerâmica) que forma a pia do banheiro, realizado pelo artesão Capilé.
Saiba mais sobre os artistas que representam a nossa Sergipanidade e que decoram as suítes da Casa do Sertão:
Claudia Nên – é artista plástica natural de Itabaiana (Sergipe). Iniciou seu trabalho artístico com o desenho, logo depois transitou entre a técnica da xilogravura e da escultura. Como resultado desse diálogo surgiu a escultura em argila que traz fortes elementos da xilogravura, seja na representação do imaginário popular ou de temas da contemporaneidade. Em muitos de seus trabalhos é possível perceber um movimento dialético que nos conecta a duas temporalidades, muitas vezes percebidas como distantes e distintas, o imaginário cultural e popular brasileiro e os conflitos próprios da sociedade contemporânea. O primeiro é percebido sobretudo nas técnicas empregadas, o segundo na forma-conteúdo. Desse movimento, que confronta a tradição com o tempo presente e um futuro inexistente, emerge um ser humano solitário que longe da alegria – geralmente associados às festas, aos ritos e as tradições populares nordestina – demonstra uma angústia própria da solidão, do individualismo, da impossibilidade contemporânea da experiência e do existir enquanto comunidade. Em sua produção, o tradicional conjunto nordestino perde o tom celebratório e sua unidade. Os tocadores, com os olhos e bocas arqueados negativamente, se conectam nos seus individualismos e introspecção. Seus rígidos marinheiros, com olhares atemporais, tentam equilibrar suas solidões, pequenez e minúsculos barcos em um presente absoluto. A mítica hidra grega assume a forma antropomórfica e parece materializar a dilaceração e fragmentação identitária do homem contemporâneo. Seus pares, alienados do presente que os conecta e para o qual o novo e o velho parece não atuar como referência ou elo de ligação, olham em direções opostas. Outro tema presente em sua produção, a ideia do duplo, assume a forma de uma impossibilidade. O sujeito (e seu duplo) não consegue efetivar o processo de duplicação e individualização do eu. Do mesmo modo, suas tentativas de materializar ações colaborativas resultam em arranjos formais desconfortáveis como a evidenciar a impossibilidade do existir coletivamente. É possível pensar a produção de Claudia Nên, desde uma perspectiva do indivíduo, com uma explicitação da problemática condição do homem pós contemporâneo e o seu destino. Seus fracassos, frustrações e impossibilidades. Suas indagações, por não apresentarem saídas, nos insere no mesmo impasse e dilaceração em que se encontra: a solidão de um presente absoluto. Texto escrito por Fabricia Jordão, São Paulo, junho, 2016
Conheça o trabalho de Claudia Nên em www.claudianen.com
Bruno Poconé – Ao observar os quadros feitos por Bruno Poconé, sergipano de Aracaju, tatuador e artista por natureza, tem-se a sensação de estar girando num caleidoscópio. Bruno não segue regras, não se prende a técnicas. O mais perto que se aproxima é do pontilhismo. Não se auto-intitula como seguidor de determinado estilo. Seu estilo é não ter estilo. É deixar fluir, deixando com que as figuras apareçam intercaladas com outras. Exatamente como ele acredita ser o destino de todos nós. Em alguns momentos intercala-se como o futuro do outro, crê Bruno. Atribui o seu dom como sendo consequência de uma forma de terapia praticada por ele. É uma viagem ao cerne do artista, trazendo à tona uma diversidade de elementos em uma mesma tela animais que se entrelaçam e se transformam em outros, formas geométricas que se fundem no espaço, imagens subliminares retratadas em segundo plano e muitas outras que a imaginação do contemplador se permite identificar. Instalações com espelhos também são intensamente utilizadas para ampliar e contemplar figuras e formas. O artista gosta de usar bases de telas diferentes, como o Eucatex, criando texturas diferentes. Da mesma forma, tem bastante facilidade para identificar materiais inusitados, como palito de dente e pincel sem pelo, para dar efeito que deseja, além da ponta dos dedos para compor segundo plano e para acentuar perspectivas de sombras. Texto escrito por Lane Oliveira.
Instagram do Artista: @artistaplasticobrux; @brux_pocone
Capilé – Aos quatorze anos de idade, Wilson de Carvalho, conhecido como Capilé, começou a trabalhar como ajudante de artesão, em Santana do São Francisco. No início, fazia moringas, mas o desejo era fazer algo maior. Hoje, aos cinquenta e dois anos, Capilé tem uma olaria onde produz peças de até um metro e oitenta de altura. Sua arte não tem limite. É possível observar as obras de Capilé, aqui na Vila Aju. As Nega-malucas ou namoradeiras estão presentes nos cenários da pousada, bem como os tachos de barro que estão presentes nas suítes da Casa do Sertão.
Geraldo – é artesão, natural de Itaporanga D’Ajuda, Sergipe. Desde criança aprendeu a traçar usando o cipó. Faz lustres, cestos, mandalas, paineis e até móveis Seu trabalho pode ser encontrado nas lojas do Mercado de Artesanato de Aracaju.
Referências:
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